segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Super hot-dog da USP

Todos que me conhecem pessoalmente sabem que eu adoro experimentar novos pratos e novos restaurantes. Não me considero um gourmet, muito pelo contrário, sou apenas um ser humano que gosta de comer.

Adoro entrar em restaurantes desconhecidos, principalmente étnicos e regionais, para deixar que o garçom escolha meus pratos e não tenho vergonha em perguntar qual é a forma correta de apreciar cada prato. Este tipo de abordagem já me rendeu boas conversas e ótimos pratos.

Mas o assunto de hoje não é o novo e sim o velho. Talvez a palavra “velho” não seja o mais adequado. Prefiro pensar em “nostálgico”.

Ontem, como em outros anos, abri a revista Veja São Paulo e me deparei com a edição que lista os melhores restaurantes e bares da cidade. Confesso que todos os anos eu torço por um lugar em especial. Não é um restaurante badalado, não é um restaurante sofisticado e nem é um templo da gastronomia moderna.

Eu torço fervorosamente, anos após ano, por uma barraquinha de rua que serve cachorro quente. O Super Hot Dog da USP que eu freqüento desde 1986. E para minha felicidade, mais uma vez ele estava lá.

Sempre achei que ficar lembrando o ano em que cada evento acontece era papo de velho, mas, no meu caso, 1986 é um ano fácil para eu lembrar. Ano em que cursava o segundo colegial, ano de prestar vestibular como pára-quedista e começar de definir meu futuro.

Foi um amigo chamado Roberto que nos apresentou a barraquinha. Ela já era famosa desde aquela época e serviu de desculpa para conhecermos o campus em que sonhávamos estudar. Pegamos um ônibus que nos levou do bairro do Paraíso até a Cidade Universitária. Um longo de trajeto de mais de uma hora, em uma época em que o trânsito nem chegava perto da loucura que é hoje.

O sanduíche era enorme e seu Antônio o cortava o pão de forma diferente. O corte era feita na parte de cima e não deitado, como é tradicional. Lembro que Roberto era um cara de bom coração, mas muito desastrado. Derrubou o sanduíche e se sujou todo, tirando gargalhadas de todos nós. Que saudades deste tempo em que tudo era engraçado.

Comemos nossos hot-dogs pensando nas incertezas do futuro. Será que passaríamos no vestibular? Será que nossas amizades sobreviveriam à separação para cursarmos carreiras diferentes? Será que seríamos alguém na vida?

Daquele dia até ontem, vinte e três anos se passaram. A maioria de nós conseguiu passar na USP, alguns formaram rapidinhos e outros demoraram mais. Alguns voltaram para fazer especializações, mestrados e doutorados. Outros entraram de cabeça no mercado e se deram muito bem.

As amizades não resistiram muito bem ao tempo. Confesso que nomes e rostos se confundem no ambiente esfumaçado da minha memória, mas lembro dos sentimentos de amizade, de esperança no futuro e a sensação de que o mundo era nosso e só precisava ser descoberto.

E, na minha vida, a barraquinha de cachorro quente se tornou uma espécie de portal para o passado. Quando tenho chance, aproveitando alguma reunião na região, dou uma desviada e ainda almoço na mesma barraquinha. Seu Antonio não monta mais os sanduíches, mas seu filho continua a tradição, com uma pequena diferença: o pão não é mais cortado na parte superior. Dou-me a liberdade de imaginar que talvez seja em respeito ao pai.

Enquanto almoço, relembro do passado. De quem eu fui e nas coisas em que acreditava. Faço um balanço de minha vida e aproveito para agradecer o que a vida me proporcionou.

E que venham muitos hot-dogs cheios de sabor.

8 comentários:

Fernanda disse...

Que texto perfeito! Parabens! Ficou muito show mesmo! No ano q vem eu me formo na faculdade e tudo isso vai me fazer taaaanta falta!

D.Ramírez disse...

Muito bom esse texto, bem redigido, gostoso de ler e fome de ir la comer o hotdog. Conheço o lanche, é aquelas barracas que hoje estão na av politecnica né, ou voltaram para onde estavam??
De qualquer forma, faz tempo q nao vou lá, voltarei depois da postagem
Abraços

Marcella Leal disse...

Texto perfeito [2]
espero um dia ter tantas lembranças, e tantas formas de voltar a elas. Desconfio que, do jeito que vai aquela escola, a cantina dela não continue ativa daqui a 25 anos.

Beeeijos

renata penna disse...

não acredito q passei 5 anos por lá e nunca experimentei. agora vou ter q dar um pulo lá só pra saborear! =P

● Ana disse...

Adorei o texto e confesso que me fez pensar no meu futuro. Vou prestar vestibular ano que vem e fiquei imaginando quais serão as minhas lembranças daqui a 23 anos.

Sweet! disse...

Afe, cadê a foto desse sanduba? Deu fome!

dstv disse...

nossa, que saudade de passar aqui!!

Nao posso dizer que sei o que é isso, mas to lendo um livro que conta uma historia desse tipo .-. /oimeuscomentariossaoinuteis

selinho pra vc la no meu blog ^^

bjss

Silvio disse...

Fiquei triste por não ver o seu Antonio e o Gerson na Veja Comer e Beber de 2011! Mas fiquei surpreso em descobrir que existem mais pessoas que torcem por eles! Na verdade conheci a dupla em 1991, no meu segundo ano de FEA. Entre idas e vindas ao Cepê devorava uns dogões. Às vezes tinha o privilégio de cruzar com o Senna, que sempre corria na USP quando estava em SP. Hoje faço o mesmo que você. De vez em quando driblo a nutricionista, o colesterol e o triglicérides e vou almoçar no velho campus: um duplo sem mostarda. Ao sentar naqueles bancos rodeados de pombos, me transporto para o início da década de 90 e fico pensando se vou ter o privilégio de voltar lá em 2031, quem sabe com meus netos. Vai ser bom demais! Que saudades daquela época! Muito obrigado por este post! Muita coisa, pessoas voltaram à minha mente e me fizeram lembrar de uma das melhores fases da minha vida! Um grande abraço!